segunda-feira, 21 de julho de 2014

O processo da Reencarnação - GEAL







O processo da Reencarnação


Os processos da Reencarnação como os da desencarnação são diferentes, não existindo dois absolutamente iguais. 


As facilidades ou obstáculos são subordinados aos inúmeros fatores, muitas vezes relativos ao estado de consciência do Espírito encarnante. 




Há geralmente três categorias de Espíritos que retornam a Terra:


1. Aqueles que procedem das regiões inferiores que necessitam de cooperação muito complexa, sempre exigindo do Plano Espiritual laborioso e paciente esforço, assim, como uma ação magnética indescritível para ser obtido um absoluto estado de inconsciência necessário à Reencarnação.


2. Aqueles de grande elevação espiritual que reencarnam em apostolado de serviço de iluminação sem dar trabalho algum aos Espíritos em serviço, realizando praticamente sozinhos o processo pré-reencarnatório.


3. Aqueles medianos que habitam a Terra, nem altamente elevados, nem conscientemente maus recebendo a ajuda dos benfeitores espirituais.





FASES DO PROCESSO REENCARNATÓRIO


André Luiz, no Livro Missionário da Luz, descreve a Reencarnação de um Espírito dessa terceira categoria que se enquadra nas diretrizes mais comuns. 


Com base nessas informações, descreve a preparação dos Espíritos, a saber:


1. Fase inicial: As leis físicas naturais são seguidas no tocante à modelagem fetal e ao desenvolvimento do embrião humano, sem, contudo, deixar de atender à questão das provas retificadoras e necessárias ligadas a matéria orgânica. 


De outro lado, nas esferas mais altas, são programados e traçados os mapas genéticos para o espírito reencarnante. 


O Espírito toma conhecimento previamente das suas características na próxima vida e tem consciência de que tudo faz parte do processo educativo pelo qual passará e deverá obedecer.



2. Fase Posterior: A Reencarnação sistemática é sempre um curso laborioso de trabalho contra os defeitos morais demonstrados nas lições e conflitos. 


Neste contexto, os pormenores anatômicos imperfeitos, circunstâncias adversas e ambientes hostis constituem formas de aprendizado e de redenção.


3. Mapa de provas úteis: O mapa de provas úteis é organizado com antecedência, levando em consideração a cooperação fisiológica dos pais, a paisagem doméstica (influência dos moldes mentais dos pais) e o concurso dos amigos espirituais. 


Assim, todo mapa cromossômico é previamente organizado para atender às necessidades de reparação do reencarnante. 


No caso, por exemplo, da necessidade de se valorizar um dos sistemas fisiológicos, como o coração, são programados para o espírito desequilíbrios nessa área em determinada fase da vida física.


4. Equilíbrio restante: O equilíbrio e todo o corpo físico também são levados em conta e todo o planejamento é estudado e revisado antes do momento da reencarnação. 


Observamos, assim, muito trabalho para os Espíritos dedicados bem como muito desconhecimento a ser vencido. 


Em vista disso, devemos aprender a valorização da bênção da Reencarnação e do corpo físico que nos abriga, zelando pela sua integridade e aproveitando todas as oportunidades para vivenciar o bem entre os homens.





FINALIDADES DA REENCARNAÇÃO


O autor Espírita Eliseu Rigonatti, do Brasil, na obra O Espiritismo aplicado, resume em três as finalidades da reencarnação:


1.Aprendizado: A primeira finalidade da Reencarnação é o aprendizado. 


Com efeito, a Terra é uma verdadeira escola na qual estamos matriculados para desenvolver nossas faculdades nobres. 


Devido às inúmeras experiências que a vida cotidiana terrena nos proporciona, educamos os sentimentos, o coração. 


A base da educação do sentimento é o primeiro grande mandamento. 


Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.


Dessa base, derivam-se todos os outros preceitos educativos. 


Portanto, o aprendizado na Terra como Espírito encarnado também oferece aos homens a oportunidade de instruir o próprio Espírito adquirindo amor e sabedoria.


*


2. Elevação Moral e Espiritual: Esta segunda finalidade da Reencarnação está relacionada com a elevação aos planos superiores do Universo, à medida que o homem vai educando o sentimento e adquirindo amor e sabedoria. Em outras palavras.

*

3. Reparação: Esta terceira finalidade da Reencarnação refere-se ao fato que o homem ao praticar o mal necessitará arcar com as conseqüências desse ato. 


E dessa maneira que a Reencarnação funciona como um corretivo ao Espírito culpado. O homem sofrerá com a mesma intensidade durante outras encarnações aquilo que ele fez sofrer. 


Contudo, a Reencarnação não é tão somente um elemento corretivo, mas, é também, um elemento reparador. 


Nas Reencarnações sucessivas, o homem será posto em íntimo contato com todos aqueles a quem causou todo o tipo de malefícios e infelicidades para que possa oferecer justa reparação.




TIPOS DE REENCARNAÇÃO


O autor Espírita Carlos T. Rizzini, na obra “Evolução para o Terceiro Milênio”, classifica a questão dos tipos de Reencarnação em três: Compulsória, Proposta e Livre, conforme vemos, a seguir:


1. Reencarnação Compulsória: É aquela em que acolhe o Espírito sem prévia concordância dele e até mesmo sem seu conhecimento. 


E por sua índole, própria dos Espíritos cujo grau de perturbação impede análise clara da situação ou cujas faltas são tão graves que anulam a liberdade de escolha. 


E uma imposição feita pela Lei Divina para atender aos casos cuja recuperação exige longas expiações.


*


2. Reencarnação Proposta: É aquela que leva em consideração o livre-arbítrio relativo de que dispõe o Espírito. 


Mentores Espirituais estudam, sem imposição, seus débitos e méritos programando em seguida os principais acontecimentos da próxima existência física, tendo em vista a liquidação ou diminuição de dívidas e possibilidades de progresso moral e espiritual.

*


3. Reencarnação Livre: É aquela que é própria dos missionários. 


Espíritos redimidos perante a Lei Divina ou próximos da redenção no plano terreno. 


São os que possuem ampla liberdade de escolha. 


Chegam ao plano material para o desempenho de tarefas elevadas em qualquer segmentos do conhecimento humano, tanto nas ciências como na filosofia ou religião. Neste último, tornam-se: Um Sócrates; um Buda; um Krishna, e, notadamente, Jesus de Nazaré.



Fonte

GEAL- Grupo de Estudos André Luiz .

A reencarnação na visão espírita - José Passini





A reencarnação na visão espírita

José Passini


A volta do Espírito ao mundo corpóreo é conhecida desde tempos remotos. 


Os Hindus, os Egípcios e os Gregos sabiam que a alma poderia voltar à Terra, usando um novo corpo. 


Esses povos acreditavam que, por efeito de determinada punição, essa volta à vida física poderia dar-se até num corpo animal.


Também os Judeus sabiam da volta do Espírito ao mundo corpóreo, mas não há referências que pudesse esse retorno dar-se num corpo que não fosse humano. 


A reencarnação, para eles, ocorria em algumas situações um tanto especiais: ou para concluir o que não tivessem conseguido terminar numa vida, ou para serem punidos, em face de males praticados. 


Quando o doutor da lei perguntou a Jesus: “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 1, não estaria ele querendo que Jesus lhe ensinasse alguma fórmula especial, uma espécie de atalho, que o desobrigasse de voltar à Terra, numa nova encarnação? 


É difícil imaginar que o doutor da lei estivesse se referindo à obtenção da imortalidade, pois os Judeus tinham convicção profunda a esse respeito. 


Tudo indica que ele pretendia lhe ensinasse Jesus um procedimento que o livrasse do retorno aos trabalhos do mundo, como acontece ainda hoje com pessoas que, ao se inteirarem da reencarnação – sem levarem em conta a necessidade evolutiva –, solicitam expedientes que lhes possibilitem não terem mais que voltar à Terra...


Há outra situação em que os Judeus julgavam ser possível a reencarnação: o cumprimento de missão. 

O exemplo mais claro é o da esperada volta do Profeta Elias para a preparação dos caminhos do Messias, conforme atesta o próprio Mestre: “E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” 2, referindo-se a João Batista.


Coube ao Espiritismo trazer o conhecimento da reencarnação ao mundo ocidental, e o fez dando uma visão muito mais ampla e profunda, demonstrando que todos os Espíritos reencarnam, não apenas para a solução de equívocos de uma vida passada, ou para o cumprimento de determinada missão, mas pela necessidade inerente a toda a criação: o imperativo do progresso, da evolução.


Em verdade, ainda que não houvesse nenhuma afirmação a respeito da pluralidade das existências, ela seria depreendida como necessidade absoluta, face à amplitude do programa de aperfeiçoamento da alma apresentado por Jesus, através do Evangelho. 


De quantos milênios vamos necessitar para pormos em prática, integralmente, um ensinamento como esse: “Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos  odeiam, e orai pelos que vos perseguem e caluniam” 3? 


De quantos milênios vamos necessitar, nós Espíritos ainda vacilantes entre o bem e o mal, que não sabemos amar plenamente nem os amigos? 


O Codificador demonstra sua visão lúcida a respeito do assunto, quando inquire os Espíritos: “Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?” 4


A reencarnação – opondo-se frontalmente à salvação gratuita pela fé – dignifica o Espírito imortal, que vai galgando os degraus do aperfeiçoamento ao longo dos milênios sucessivos, crescendo em sentimento e intelectualidade, num trabalhoso processo de exteriorização da herança divina, concedida igualmente a todos os Espíritos. 


No nascedouro, todos absolutamente iguais. 


As diferenças individuais, portanto, não decorrem de capricho divino, mas sim do empenho de cada Espírito no sentido de promover o seu próprio progresso. 


Nesse caminhar, vai recebendo, por justiça, os frutos de todo o bem semeado, e, em função dessa mesma justiça, é compelido a reparar os males praticados, mas não em igual medida, graças à misericórdia divina.


O Espiritismo, ao revelar ao mundo ocidental a reencarnação, prova que a verdade religiosa não é incompatível com a verdade científica, explicando que a evolução do Espírito caminha pari passu com a evolução física demonstrada por Darwin, ao tempo em que resgata diante da consciência humana um dos atributos básicos de um Ser Perfeito: a Justiça. 


Tudo provém de uma mesma fonte, todos partimos de um mesmo ponto, dotados da mesma potencialidade evolutiva, conforme ensinaram os Espíritos: “É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo ao arcanjo, que também começou por ser átomo”.5 


Por conhecer essa luz divina imanente em toda a criação, é que Jesus lançou o desafio evolutivo: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...)”.6


A evolução do Espírito fica muito evidente nas palavras de Jesus, quando se declara, ele também, um Espírito em evolução: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas (...).”7 


É verdade que no dia em que chegarmos a fazer o que o Mestre fazia à época em que pronunciou essas palavras – daqui a alguns milhões de anos –, pensando que nos igualamos a ele, ele estará ainda à nossa frente, pois ele disse que poderíamos fazer obras maiores do que as que ele fazia, mas não disse que nós o ultrapassaríamos. 


Ultrapassaremos o ponto evolutivo em que ele se encontrava naquele dia, mas ele estará ainda à nossa frente, de vez que a evolução é infinita. E nós nem sabemos o que é infinito, a não ser através de uma definição terrivelmente circular: “aquilo que não tem fim”!


Kardec, em brilhante ensaio8, defende, com argumentação irretorquível, o imperativo da reencarnação sob a ótica da justiça e da misericórdia de Deus. 


É um trabalho monumental, até hoje não contestado por filósofo ou teólogo algum. 


Muitos livros foram escritos tendo como tema a reencarnação, mas não se conhece nenhum trabalho sério que rebata os argumentos ali apresentados.


Aos argumentos alinhados pelo Codificador, pode-se ainda acrescentar uma série de outros, graças aos esclarecimentos trazidos pelo Espiritismo:


Se o Espírito fosse criado juntamente com o corpo, como ficaria a justiça divina ante a flagrante diferença que existe entre as oportunidades deferidas ao homem e à mulher, na família, na sociedade e até mesmo nas religiões? 


Seria o caso de a mulher perguntar – e muitas perguntam – por que Deus as criou mulheres, sem as consultar, para sofrerem, em muitos casos, cerceamento de liberdade por parte dos pais, e depois as exigências e, não raro, a brutalidade dos maridos, enquanto lhes pesam nos ombros as sérias responsabilidades no encaminhamento e na manutenção da saúde dos filhos? 


O Espiritismo, dentro de uma visão evolucionista, mostra que o Espírito não tem sexo, podendo encarnar-se como homem ou como mulher, segundo o seu livre-arbítrio.


De acordo com a doutrina da unicidade das existências, a criação de novas almas não seria decorrente da vontade do Criador, mas estaria sujeita ao arbítrio dos casais, pois que poderiam usar um contraceptivo, impedindo Deus de usar o Seu poder de criar uma nova alma. 


O Espiritismo nos ensina que, ao usar qualquer recurso anticoncepcional, um casal apenas impede que um Espírito, já criado por Deus, que já encarnou outras vezes, volte à Terra para uma nova etapa de aprendizagem.


No caso de um estupro, por que se valeria Deus de um ato de violência, de ultraje, de desrespeito, para criar um Espírito? 


Onde estaria a justiça divina, se outros são criados, ao contrário, em momentos de amor sublime, como filhos altamente desejados? 


Por que teria esse Espírito, fruto de uma violência, de ficar estigmatizado por toda a Eternidade? 


Através dos esclarecimentos da Doutrina Espírita, sabe-se que o acontecimento brutal que se deu tem causas anteriores, e que o Espírito que se reencarna, aceitando ou sendo compelido a aceitar uma situação dessa natureza, tem ligações de natureza vária, estabelecidas no passado, principalmente com aquela que lhe será mãe.


Se não houvesse experiências anteriores, como explicar a rebeldia, a brutalidade, o mau caráter de um filho que tem toda uma ancestralidade constituída de pessoas dignas? 


Alguém poderá objetar, dizendo que é herança genética de um parente longínquo. 


Mas que culpa têm os pais? 


Por que Deus permitiria que esses gens danosos entrassem na formação daquela alma? 


A prosperar essa ideia, chegar-se-ia ao absurdo de, no esforço de impedir Deus de criar Espíritos de mau caráter, dever-se-ia esterilizar todos os que não fossem portadores de virtudes. 


Seria assim fácil “aperfeiçoar” a raça humana, como pretenderam, no campo físico, os cultores da louca teoria da raça pura.


O Espiritismo esclarece que ninguém herda inteligência, virtudes ou defeitos morais, por serem atributos do Espírito, que os traz como bagagem própria, intransferível quando reencarna. 


Se um casal tem um filho que lhe nega as linhas morais da família, trata-se de um Espírito que foi por eles adotado, em função do desejo de auxiliá-lo, ou o receberam como consequência de um passado comprometido com ele, “porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo”.9 


Dentro dessa linha de raciocínio, chega-se à conclusão que todos os filhos são adotivos, enquanto Espíritos criados por Deus. 


O casal apenas “fornece o invólucro corporal”.9 


Diga-se, de passagem, que, para um ajustamento de linguagem, dever-se-ia dizer: filhos consanguíneos e não consanguíneos, porque todos são adotivos.


A doutrina reencarnacionista é a única que não é racista, pois demonstra que Deus não seria justo se criasse um Espírito imortal dentro de uma raça. 


O Espírito é criado por Deus e evolui, passando pela humanização, no processo de angelizar-se. 


Ao humanizar-se, encarna-se inúmeras vezes, nas mais variadas raças, mas seu início, sua criação não está vinculada a grupo étnico nenhum. 


A bem dizer, todos os Espíritos pertencemos a uma única raça, pertencemos à raça divina, porque somos filhos de Deus.     
  


Bibliografia:

Novo Testamento:
1 - Lc, 10: 25
2 - Mt, 11: 14
3 - Mt, 5: 44
6 - Mt, 5: 16
7 - Jo, 14:12
O Livro dos Espíritos:
4 - item 166
5 - item 540
8 - item 222
9 - O Evangelho segundo o Espiritismo:   Cap. 14, item 8.



*José Passini é espírita atuante no Movimento Espírita de Juiz de Fora/ MG / Brasil . E mail: passinijose@yahoo.com.br.


Fonte

O CONSOLADOR. Disponível em http://www.oconsolador.com.br/ano8/371/jose_passini.html. Acesso: 21 JUL 2014.

Kardec e sua visão do futuro - José Passini






Kardec e sua visão do futuro
José Passini

Ao fazermos uma análise da personalidade de Kardec, buscando conhecer-lhe a cultura, aliada à profunda identificação com o Evangelho, não devemos ter por objetivo apenas homenagear-lhe a memória. 


Devemos vê-lo como alguém que veio para cumprir uma promessa de Jesus. 


Devemos avaliar-lhe a estatura espiritual, não apenas para nosso encantamento, mas a fim de nos conscientizarmos da nossa condição de beneficiários da sua obra, desse acervo imenso de esclarecimentos que marcaram efetivamente uma nova etapa na evolução humana.


É necessário pensarmos em Kardec na sua época, a fim de avaliar-lhe o avanço no tempo em relação ao pensamento predominante de então. Precisaríamos, todos nós, ter a possibilidade de nos transportar, de caminhar para o passado, a fim de sentirmos a época, com seus costumes e, principalmente, com suas limitações. 


Só assim poderíamos observar com justeza o avanço do pensamento de Kardec em relação aos seus contemporâneos, e até de muitos dos atuais pensadores das searas religiosas, políticas e sociais.


A Igreja, recém-saída da Inquisição – em Portugal terminou, por decreto da Regência, em 1821 –, ainda impunha terrivelmente o seu poder. 


Nos países, ditos católicos, não havia separação entre o Estado e a Igreja. 


Para se ter ideia desse poder, é só lembrarmos que em 9 de outubro de 1861, na Espanha, foram queimadas, em praça pública, 300 obras espíritas, legalmente importadas da França, no assim chamado o Auto-de-fé de Barcelona.


Em 1864, a encíclica Quanta Cura condenou a tolerância religiosa. 


E esse empenho em manter o poder não se restringiu ao século XIX, pois em 1906 duas encíclicas do Papa Pio X, Vehementes nos e Gravissimi Officii, condenaram a separação entre Estado e Igreja.


Na Espanha, em 1931, houve a laicização do poder civil, com a limitação dos poderes da Igreja. Infelizmente, em 1953, durante a ditadura de Franco, mediante concordata com a Santa Sé, voltou o Catolicismo a ser declarado religião única da nação espanhola. 


Em Portugal, durante a ditadura de Salazar, em pleno século XX, foi fechada a Federação Espírita Portuguesa, e todos os seus bens foram confiscados. Na França, o clima era um tanto diferente, mas não muito. 


Tenham-se em vista as perseguições e os ataques sofridos por Kardec.


O descompasso entre a religião e a ciência tornava-se cada vez mais agudo


Entretanto, apesar da forte pressão dominadora exercida pela Igreja, no sentido de ser mantida a sua versão do Cristianismo, durante o século XIX, em algumas partes da Europa ocorria uma libertação quase rebelde de muitos intelectuais, em relação às pregações religiosas, que já não mais conseguiam convencê-los. 


O descompasso entre a religião e a ciência se tornava cada vez mais agudo, ensejando um desencanto que levou muitos Espíritos lúcidos à tomada de posições eminentemente materialistas, criando o ambiente para o surgimento do Positivismo, doutrina que visa à superação dos estados teológico e metafísico, negando tudo o que não fosse fisicamente mensurável, e preparando o terreno para o materialismo do século XX.


No campo social, a mensagem religiosa servia apenas para coonestar o egoísmo vivenciado pelos poderosos, sem que houvesse a mínima ação no sentido de amenizar a desumana e angustiosa situação das classes trabalhadoras, notadamente dos operários. 


É dessa época a famosa frase atribuída a Karl Marx: 
“A religião é o ópio do povo.” 


E realmente o era, pois constatava-se facilmente a imensa distância que havia entre a mensagem simples, fraterna, amorosa e atuante de Jesus, e aquilo que era oferecido como Cristianismo pela Igreja, totalmente comprometida com o poder temporal.


Kardec não se curva à Igreja, mas não adere ao materialismo seco e destrutivo, como tantos pensadores do seu tempo. 


Sua visão de missionário permite-lhe discordar daquilo que a Igreja oferecia como verdade e possibilita-lhe uma proposta religiosa a ser experienciada principalmente fora dos templos. 


Uma religião a ser vivida em clima de liberdade, tanto na área do sentimento, quanto da razão, conforme os ensinamentos e exemplos de Jesus.


Diante da atuação de Kardec, seria difícil enquadrá-lo nas áreas do conhecimento humano. Revela-se como teólogo ao dialogar com os Espíritos Superiores a respeito de Deus, demonstrando independência e superioridade de pensamento em relação aos seus contemporâneos, quando formula a pergunta: “Que é Deus?” 1 Isso dito numa época em que grandes pensadores estavam ainda atrelados à ideia de um Deus antropomórfico, portador de limitações humanas, quanto à forma e aos atributos. 


A reencarnação, rejeitada até então, mereceu-lhe análise clara e irretorquível


O Codificador demonstra que sua visão de Deus é cósmica, e está em perfeita consonância com os avanços da Astronomia, que, caminhando à frente das religiões, já demonstrara àqueles “que têm olhos de ver” que o Universo conhecido era maior do que o Deus ensinado por elas.


Entretanto, sua concepção científica da grandeza cósmica de Deus não o impediu de resgatar a figura do Pai justo, providente, amoroso e infinitamente misericordioso, conforme os ensinamentos de Jesus, contrapondo-se frontalmente à criação nefasta dos teólogos: o Inferno de penas eternas, dentro do contexto cristão. 


Nesse campo, revela o Codificador a sua condição também de educador e de penólogo, ao examinar com impecável lucidez temas como Céu, Purgatório e Inferno, principalmente na obra “O Céu e o Inferno”. 


Entretanto, se abriu as portas do Inferno, demonstrou que as do Céu não se descerram à custa de ofícios religiosos encomendados, de legados post mortem, mas através do esforço individual, intransferível e consciente de cada Espírito, conforme sentenciou Jesus: “... Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me.” 2


A reencarnação, rejeitada e ridicularizada àquela época, mereceu-lhe análise clara, profunda e irretorquível, em tese que o futuro, que vivemos hoje, tem consagrado como vitoriosa, de vez que até o presente não existe nenhum trabalho sério que a conteste. 


Pelo contrário, com o passar do tempo avolumam-se os trabalhos acadêmicos que a comprovam.


Demonstra com clareza a imortalidade da alma, não apenas como artigo de fé, estribada em dogmas, mas no campo da experimentação científica, através do resgate do exercício da mediunidade, prática que seria objeto de estudos levados a efeito na área acadêmica, primeiramente sob o nome de Metapsíquica e, bem mais tarde, de Parapsicologia.


Revelou-se sociólogo eminentemente cristão ao dialogar com os Espíritos sobre questões sociais, pondo em evidência temas que outras religiões só décadas mais tarde viriam discutir.


O trabalho, ensinado no meio religioso como castigo, é mostrado como oportunidade enobrecedora de colaboração na obra de Deus. 


Pela primeira vez o relacionamento entre capital e trabalho é tratado no meio religioso, com sérias advertências àqueles que, abusando do poder de mando, impõem excessivo trabalho a seus inferiores, pois era comum na Europa as jornadas de trabalho excederem a doze horas.


Kardec inseriu conceitos de moral religiosa num campo eminentemente social


Pela primeira vez, na história do Cristianismo, alguém cria ambiente para que Espíritos Superiores advirtam o homem, em nome de Deus, a respeito da responsabilidade no emprego do poder: “Todo aquele que tem o poder de mandar é responsável pelo excesso de trabalho que imponha a seus inferiores, porquanto, assim fazendo, transgride a lei de Deus.” 3 


Enquanto todas as vozes religiosas se calavam, Kardec inquire os Espíritos a respeito do direito do trabalhador de repousar depois de ter dado o vigor de sua juventude em trabalho: “Mas o que há de fazer o velho que precisa trabalhar para viver e não pode?” 4 


A resposta lapidar, que deveria servir de epígrafe e inspiração para muitos discursos sociológicos e religiosos: “O forte deve trabalhar para o fraco. 


Não tendo este família, a sociedade deve fazer as vezes desta. 


É a lei de caridade.” 4 Só 31 anos depois da edição definitiva de “O Livro dos Espíritos”, a encíclica Rerum Novarum, em l891, revela algum despertamento do meio católico para o tema.


Relativamente à escravidão, existente ainda no Brasil, nos Estados Unidos e em Cuba, os poderes religiosos também se mantinham calados até então, impedidos de erguer a bandeira abolicionista por estarem comprometidos com aqueles que se beneficiavam com o trabalho escravo. 


Contra esse ignominioso domínio de um ser humano sobre outro, manifestaram-se os Espíritos, falando em nome de Deus, graças às perguntas de Kardec, que, com isso, inseriram conceitos de moral religiosa num campo eminentemente social.


Nove anos antes da publicação da obra “Sujeição das Mulheres”, de Stuart Mill, que é tida como uma das molas propulsoras do movimento feminista, Kardec publica o diálogo que manteve com os Espíritos Superiores e comentários seus, analisando a igualdade dos direitos do homem e da mulher, enquanto as demais correntes cristãs mantinham, e ainda mantêm em seu próprio seio, posições altamente discriminatórias, em que a mulher continua como subalterna, malgrado os exemplos dignificantes de Jesus.


Ao perguntar aos Espíritos: “Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres?” 5, 


O Codificador demonstra conceituar o casamento como ato eminentemente moral, mútuo compromisso assumido no âmbito da consciência de um homem e de uma mulher, acima de toda e qualquer bênção sacerdotal ou da assinatura de um documento civil. 


“A abolição do casamento seria, pois, regredir à infância da Humanidade”


Evidenciada por Kardec há mais de um século, essa a visão que se tem hoje, quando cada vez mais prospera o entendimento de que ninguém casa ninguém; as criaturas se casam, e só elas são responsáveis pela manutenção do vínculo livremente estabelecido. É digna de nota a posição do Codificador, pois se de um lado esclarece, libertando a criatura dos grilhões criados por uma bênção sacerdotal – pretensamente dada em nome de Deus –, por outro, chama-lhe a atenção para os compromissos assumidos perante o altar de sua própria consciência. 


O valor que Kardec atribui ao casamento está perfeitamente explicitado no comentário feito ao tratar do assunto: “A abolição do casamento seria, pois, regredir à infância da Humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão o exemplo de uniões constantes.” 6


Numa época em que as religiões não discutiam o papel da família, por julgá-la estabelecida em função de sacramento ministrado em nome de Deus – embora, em alguns casos, até mesmo contra a vontade de quem o recebia –, Kardec, antevendo atitudes e questionamentos futuros, analisa e discute com os Espíritos Superiores o papel do instituto familiar. 


Obteve respostas esclarecedoras dos Espíritos, situando a família como núcleo insubstituível da educação humana, núcleo formado não em função de uma evolução social, mas decorrente de desígnio divino. 


Por isso, o Espiritismo já tinha resposta antecipada às duras contestações que viriam décadas mais tarde, quando regimes totalitários pretenderam instituir um modelo de educação da criança pelo Estado e, mais tarde ainda, através das propostas de “vida livre” levadas a efeito pelos hippies e aqueles que lhes partilharam as ideias.


Ao assumir veemente combate contra a pena de morte – enquanto setores religiosos se mantinham silenciosos ou mesmo coniventes –, Kardec tira o “não matarás” de dentro dos templos, levando-o à discussão penal e social, antecipando-se, em décadas, a campanhas que surgiriam bem mais tarde.


O imenso abismo cavado entre a Ciência e a Religião pelos estudos de Copérnico e Galileu alargou-se ainda mais com a publicação da obra “Da Origem das Espécies”, de Charles Darwin. Coube a Kardec o papel histórico de construir uma ponte luminosa, ligando Ciência e Religião. 


O pensamento de Kardec é uma antevisão terrena dos caminhos da Humanidade


Contestando o Criacionismo, põe em evidência a evolução do Espírito, que caminha pari passu com a evolução física demonstrada por Darwin, ao tempo em que resgata diante da consciência humana um dos atributos básicos de um Ser Perfeito: a Justiça. 


Tudo promana de uma mesma fonte, todos partimos de um mesmo ponto, dotados da mesma potencialidade evolutiva, conforme ensinaram os Espíritos: 


“É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo ao arcanjo, que também começou por ser átomo.” 7 


Por conhecer essa luz divina imanente em toda a criação, é que Jesus lançou o desafio evolutivo: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...)”.8


Não se pretendeu aqui fazer uma análise exaustiva da obra de Kardec, nem da sua capacidade como filósofo, educador, sociólogo ou teólogo. 


Buscou-se enfocar apenas o avanço do seu pensamento, em relação aos seus contemporâneos. 


Kardec transcende sua época, enxergando além dos interesses, da cultura, do meio social e religioso em que convive.


Se o Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail tivesse publicado suas obras sem revelar os diálogos com os Espíritos e o seu aspecto religioso, por certo a França o teria incluído entre seus filósofos, conforme já o fizera entre seus grandes educadores.


No decorrer deste milênio, quando o ranço religioso e o academicismo enfatuado se fizerem menos presentes, e quando não mais estiverem tão distanciados das verdades do Evangelho puro, Kardec certamente será estudado nas universidades, será “descoberto” como um gênio do século XIX, maravilhando Espíritos que já terão reencarnado para o estabelecimento de diretrizes educativas dos tempos novos. 


Nessa ocasião, terão dificuldade em situá-lo numa área do saber humano, em face do domínio revelado por ele no campo da sociologia, do direito, da educação, da filosofia e, principalmente, da teologia.


A marca inquestionável da sua condição de grande missionário é o fato de o seu pensamento não estar preso ao lugar e à época. 


Seu pensamento vigoroso projeta-se no futuro, numa antevisão terrena dos caminhos da Humanidade. 


Espiritualmente falando, não é antevisão, é simplesmente a recordação dos temas humanos que mereceram seu estudo, sua análise minuciosa, no Espaço, antes de se reencarnar. 


Guardadas as devidas proporções, é o mesmo fenômeno que se deu com Jesus que, transcendendo os conhecimentos, os interesses, as aspirações – a própria cultura da época –, fez abordagens de assuntos incomuns e deixou ensinamentos e diretrizes evolutivas para os séculos porvindouros. 



Referências:

O Livro dos Espíritos:

1 - item 1

3 - item 684

4 - item 685 a

5 - item 695

6 - 696 (comentário)

7 - item 540.

Novo Testamento:

2 - Mt, 16:24

8 - Mt, 5:16.

*José Passini é espírita atuante no Movimento Espírita de Juiz de Fora/ MG / Brasil . E mail: passinijose@yahoo.com.br.



 Fonte:
Disponível em http://www.oconsolador.com.br/ano5/238/especial.html. Acesso : 21 JUL 2014.